terça-feira, 4 de março de 2008

Jarê




Realização Casa Cultural Coronel Pitá, Viver, Cultura e Meio Ambiente
e Colégio Estadual Edgar Silva

Breve Relatório do
1º Encontro de Jarê - Dezembro 2006

A importância da realização desse encontro se traduz pelo reconhecimento e valorização de uma manifestação étnica religiosa, cujos traços culturais nos remete à formação do povo brasileiro e, em particular, a própria ocupação miscigenada da Chapada Diamantina – Bahia. Segundo alguns dados históricos esta região tem na sua origem populações indígenas e quilombolas resultantes das incessantes fugas de escravos provindos das ocupações litoraneas e dos engenhos do Recôncavo.

Esse evento se propôs a dar continuidade a um processo de inserção cultural de uma camada da sociedade, muitas vezes marginalizada pelo preconceito social, pois suas praticas tidas como primitivas e ligadas a fetiches e bruxarias, são na verdade resultado dos saberes ancestrais adquiridos secularmente pela diversidade afro-brasileira e merecedora do mais profundo respeito e responsabilidade para com seus devotos e praticantes.

São testemunhos de uma realidade mística e ao mesmo tempo tão presente nesta região que vale ressaltar o caráter preventivo e curativo dos seus “sacerdotes” que no dia a dia dos terreiros atendem, tratam e confortam uma parcela significativa da população notadamente carente dos serviços inerentes à sobrevivência humana a exemplo da saúde, educação e trabalho, em busca de sua identidade cultural e participação comunitária. As casas de Jarês representam em sua maioria o ambiente de inclusão destes direitos e necessidades sociais.

A estratégia de construção dessa proposta se justifica na constatação de que o Jarê, ¨... É um candomblé de caboclo que, a partir de vários elementos formativos, instalou-se, adaptou-se e sofreu transformações dentro do território pesquisado, tendo por núcleo histórico inicial a Região das Lavras...¨ (SENNA, Ronaldo Sales; Jarê – 1998) além das suas praticas religiosas, revela uma resistência cultural muito marcante na história da Chapada Diamantina, pois os seus terreiros (roças) em muitos momentos foram palcos do ciclo econômico, políticos e sócio-culturais dessa região, seja no apogeu das lavras diamantinas ou mesmo nas constantes crises derivadas dos períodos de seca e escassez dos recursos naturais.

Diante de todo esse patrimônio, a organização do evento buscou interagir com todos os envolvidos desde a equipe de trabalho - professores e estudantes - aos seus principais protagonistas – curadores, devotos, auxiliares e sacerdotes. A proposta participativa buscou, sobretudo respeitar o tempo e a própria compreensão desses na medida que o ineditismo do Encontro fez surgir uma série de interpretações, não somente no conjunto dos participantes, como em toda comunidade, afinal reunir pessoas para discutir, propor e atender as suas crenças não é algo muito comum em se tratando das suas individualidades, já que o tema a ser tratado transcende a parâmetros racionais e incorpora elementos do imaginário coletivo.È justamente nessa linha de entendimento que buscamos em todo processo de execução registrar informações e imagens das origens, tradições, entidades, ritos e devoções que pudessem proporcionar um conhecimento mais amplo dessa manifestação de fé e religiosidade onde o sagrado e o considerado profano se misturam nas rezas, ladainhas, cantigas, oferendas, transes, saudações, vestuários, adereços, velas, foguetórios e cultos de extraordinária devoção. ¨...O Jarê é, hoje, um rótulo sob o qual se abrigam uma quantidade indefinida, porque desdobrável, de crenças, cultos e rituais que se expandem e se retraem ao sabor das necessidades e conveniências. Não é uma organização que abarque ou aborde todas as “gentes de santo” da região, mas, sobre elas, tem uma influencia muito significativa...¨ (SENNA – 1998). Esta colocação do mestre Ronaldo define em grande parte o resultado desse nosso Encontro, afinal mesmo não tendo a participação de todas as casas convidadas e pesquisadas (oito em Andaraí e duas em Itetê), podemos perceber as adversidades dessa manifestação, seja no âmbito das suas lideranças em que é visível à competitividade ou mais ainda quando nos deparamos com a necessidade urgente do seu reconhecimento étnico – cidadão. Daí a expectativa de novos encontros, discussões e prováveis interações que visem enriquecer não apenas o Jarê, mas toda a diversidade cultural da Chapada Diamantina.



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